sexta-feira, 20 de março de 2020

O futebol (e o amor) nos tempos do coronavírus

Em meio à pandemia, o futebol e seu desenrolar em 2020 são as coisas menos importantes para nos preocuparmos. E que saudade de pensar que o lateral manco do meu time era um grande problema.


GloboEsporte.com — Porto Alegre


Foto= Aldo Carneiro/Pernambuco Press

Entre tantas notícias que atordoam nessa época de angústia sob a nuvem do coronavírus, ao menos imperou o bom senso de paralisar os campeonatos mundo afora -- e inclusive no Brasil, sempre disposto a viver perigosamente. Por aqui, aconteceu de forma temerária, é importante salientar: há menos de uma semana, quando a pandemia já era realidade, somente Maracanã, Morumbi e Arena do Grêmio somaram uns 150 mil torcedores presentes.
Se o mundo ainda estivesse girando e a terra plana não tivesse capotado, nessa semana estaríamos vivendo noites de delírio com a Libertadores e outros perrengues futebolísticos espalhados pelo mundo. São batalhas imaginárias que travaremos desde casa, pequena cancha de portões fechados e janelas abertas, onde devem permanecer todos aqueles que assim podem proceder. O distanciamento social, nesse caso, é a maior prova de consciência coletiva.


É uma situação sem precedentes, essa interrupção planetária do futebol. Durante guerras, atentados terroristas e outras calamidades sanitárias, a bola sempre teimou em rolar, em algum canto que fosse. O celibato futebolístico deve ser comemorado: talvez nem haja mais futebol em 2020, e essa possibilidade sequer ocupa o rodapé das nossas questões mais urgentes. Aquele nosso lateral manco que se olhava no espelho e enxergava o Zanetti não é mais uma preocupação.


Aos clubes e entidades que comandam o futebol, o papel que lhes cabe agora é o de proteger e conscientizar. Assumir a função de agentes sociais que muitas vezes lhes escapa quando a bola está sob os holofotes. Como no singelo exemplo de Colo Colo e Peñarol, que jogariam ontem pela Libertadores e, com a partida cancelada, promoveram um JOGO DA VELHA pelo Twitter. Também pela diversão, pois é preciso leveza, mas especialmente para aconselhar aos seus adeptos que permaneçam resguardados.


Assumir a responsabilidade individual diante da pandemia é um ato pela humanidade. Pendure as chuteiras e os sapatos, cuide dos mais vulneráveis, lave as mãos e afaste o tédio revendo aquela lista de partidas inesquecíveis do seu time. Depois, os maiores fiascos do seu rival. Depois, todas as finais de Copa do Mundo. E, quando bater aquela saudade doída da cerveja na calçada e dos companheiros de arquibancada, mande um "abrazo de gol" pelo Whatsapp. Outros abraços o futuro nos reserva.

Por Douglas Ceconello
Jornalista, um dos fundadores do Impedimento.org, dedicado ao futebol sul-americano

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