sexta-feira, 20 de julho de 2018

Mais de 950 mil brasileiros têm contas em bancos 100% digitais


Mais de 950 mil brasileiros têm contas em bancos 100% digitais
Myke Sena/Jornal de Brasília.

Menor burocracia e taxas inferiores às do mercado atraem correntistas para instituições digitais


João Paulo Mariano
redação@grupojbr.com
Já são mais de 950 mil brasileiros com contas em bancos 100% digitais, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Eles não precisaram recorrer a uma agência física para se vincular à instituição. Tudo foi feito pela internet de forma pouco burocrática. Várias instituições ingressaram no mercado com esse perfil e até bancos convencionais criaram contas digitais, com valores diferenciados.
Para especialistas, isso mudou a forma com que o cliente olha para a instituição financeira e não deve parar por aqui: os bancos precisam se adaptar, já que o número de usuários dessas contas só tende a aumentar.
Alguns bancos digitais já são conhecidos da população e outros trabalham para isso, ampliando suas presenças nos celulares, de muitos nos próximos meses. O mineiro Inter e o Original já estão com mais de um ano de estrada.
No segundo semestre do ano passado, o Nubank, que só operava com cartão de crédito, anunciou o NuConta, transformando-se em um banco digital. No mesmo período, o septuagenário Bradesco criou seu braço tecnológico, o Next, com diferentes faixas de preço, havendo isenção total de taxas em uma delas, mesmo com o cartão de crédito.
E é justamente no aspecto das taxas que os bancos digitais conseguem cada vez mais correntistas. Quando não existe isenção, há uma boa diminuição em comparação com o que os bancos convencionais oferecem. Para a bibliotecária Priscila Almeida, 26, a possibilidade de fazer transações sem pagar tarifas desperta muito interesse.
Economizar nas taxas
Ela entrou para o mundo das contas digitais em janeiro deste ano por indicação de uma amiga. “Eu estava cansada de pagar taxas. Cada TED era no mínimo R$ 8”, lembra a jovem, que preferiu se ver livre disso. Baixou o aplicativo, fez a inscrição , mandou os documentos necessários, mais foto e pronto: era a mais nova cliente com direito a um cartão de crédito.
Priscila diz que só não se desfez das outras contas em bancos convencionais porque seu empregador pede que ela tenha conta em outras instituições.
De todo modo, fez até portabilidade do salário que recebe via banco tradicional para a conta do Inter. Ainda não tem certeza se vai abandonar a outra conta, porque é cliente desde 2011, mas se o banco não a isentar de taxas, admite que pode mudar de ideia.
O coordenador do curso de MBA em Marketing Digital da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Miceli, concorda: os mais novos não querem ir a agências resolver seus problemas. Essa é apenas uma das mudanças que os bancos digitais vão acentuar. Ele lembra que, antigamente, o banco que tinha muitas agências era considerado com uma boa cobertura. Contudo, agora, é preciso ter uma atendimento online rápido e um aplicativo que funcione com o maior leque possível.
“Nos próximos dois ou três anos, vão surgir iniciativas isoladas de grandes bancos com startups de versão 100% digital. Outros independentes podem ser cooptados para os bancos que já existem. Novas marcas vêm oxigenadas e com posicionamento novo. Isso inclui até uma relação mais aberta com o público, o que facilita a entrada no mercado”, afirma o especialista.
Segurança digital e empregos em queda são as preocupações
Com perfil mais digital, há menos operações presenciais. Assim, é preciso menos pessoas para trabalhar. O professor André Miceli vê que essa adaptação é perceptível no fechamento de inúmeras agências nos últimos anos – e em bancos tradicionais. No Distrito Federal, segundo o Sindicato dos Bancários, foram 2,5 mil postos de trabalhos a menos nos últimos três anos, a maior parte do Banco do Brasil.
O presidente da entidade, Eduardo Araújo, explica que não foi apenas a crise econômica que causou isso, mas sim, a digitalização dos serviços, unida ao aparecimento de bancos digitais. Ele acredita que os bancos convencionais devem cooptar ou o comportamento ou os digitais para sobreviver.
Para o banco que nasce digital, a inserção no mercado fica mais fácil porque existe um público específico a ser perseguido – em geral, mais jovem e com grande presença na internet. No banco Inter, fundado em Belo Horizonte, a maioria dos 741 mil usuários, desde a criação em abril de 2015, é de homens entre 26 e 32 anos.
O número de correntistas do banco cresceu bastante nos últimos meses. Em dezembro do ano passado, havia 370 mil contas. Em janeiro de 2017, eram apenas 90 mil. A superintendente de Relacionamento e marketing do Inter, Priscila Sales, garante que o aumento deve-se às estratégias da instituição em investir no digital e no marketing esportivo, com apoio a times como o América mineiro e o São Paulo.
O banco não cobra taxas para emitir cartão de crédito, conta corrente ou transferências. Para a superintendente, a instituição não vê propósito em cobrar do cliente dessa forma, pois consegue boa remuneração quando um investimento é feito ou quando se usa cartão de crédito.
A instituição até criou o Tarifômetro, que é uma adaptação do impostômetro, presente em várias capitais do País. A intenção, segundo Priscila Sales, foi mostrar o quanto os clientes do Inter estão economizando, já que eles não precisam pagar diversas taxas. Assim, quando alguém faz uma transferência tipo TED, como ela deixou de pagar cerca de R$ 7,50, esse valor é computado como economia. “É um recurso que volta para as pessoas. Elas podem investir melhor esse dinheiro”, afirma Priscila Sales.
O gerente de vendas, Danilo dos Santos Araújo, 20, ficou tão empolgado por não ter que pagar as taxas que desde 2016 se tornou cliente de dois bancos digitais – do Inter e do Original.
Sua única preocupação é com a segurança. “Eu pretendo continuar com os digitais por muito tempo e os recomendo. Posso fazer tudo pelo telefone, adianto fatura. É muito bom. Apesar disso, a preocupação é com o risco de hackers entrarem no sistema. Mas, eu acredito que os bancos estão se preparando para isso”, afirma Danilo.
Em maio deste ano, o banco Inter teria sofrido uma falha na segurança. Mas, segundo a superintende Priscila Sales, não houve grandes problemas. “A segurança é um dos nossos principais pilares. Fazemos um investimento fortíssimo em segurança da informação e tecnologia”, conclui. As atualizações quinzenais do aplicativo são instaladas automaticamente no celular do usuário para evitar brechas na segurança.
O diretor de tecnologia da Montreal, Luiz Antonio dos Santos, salienta que não é porque um banco é 100% digital que terá mais problema que os convencionais. O importante seria colocar camadas de segurança que personalizem o aplicativo e não deixem apenas a senha como impedimento de entrada na conta. Com o aumento dos correntistas que acessam contas só por meio de celulares, isso ficou imprescindível.
Saiba mais
Segundo a pesquisa de Tecnologia Bancária 2018, da Febraban, no ano passado se fizeram 25,6 bilhões de transações através do celular – uma alta de 38% em relação a 2016. Se comparado a 2011, a participação do mobile no total das transações bancárias cresceu 3,5 vezes.
O resultado foi impulsionado pelo crescimento do pagamento de contas (+85%), transferências no estilo DOC e TED (+45%), contratação de crédito (+ 141%), investimentos (+42%) e, também, a pessoas que, como a bibliotecária Priscila Almeida, 26, fizeram uma conta digital e organizam toda a vida financeira pelo celular.
FONTE: JORNAL DE BRASÍLIA

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