Natalie Schonwald afirma que o surfe e o adestramento paraequestre, assim como outros esportes, são importantes ferramentas de transformação na vida desses atletas
Realizados a cada quatro anos sempre depois dos Jogos Olímpicos, os Jogos Paralímpicos é o maior evento esportivo do mundo com o intuito de promover a acessibilidade social. De 28 de agosto a 8 de setembro, será a vez dos paratletas de diversas modalidades mostrarem tamanha equidade nas competições de Paris 2024.
Uma das atividades disputadas neste ano é o adestramento paraequestre. Trata-se de uma modalidade do hipismo e que se rege pelas mesmas regras, tendo como o diferencial a classificação funcional que divide os atletas em cinco graus de acordo com suas deficiências, tornando uma competição justa entre eles.
A especialista em temas de inclusão e diversidade, Natalie Schonwald, pratica esporte desde pequena. Aos quatro anos de idade, a profissional iniciou na equoterapia, um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem multidisciplinar e interdisciplinar, com a finalidade de buscar desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com necessidades especiais. Aos nove anos foi para a modalidade de salto e começou, então, a aprimorar suas habilidades. “Em 2002 comecei a treinar adestramento paraequestre em Ibiúna, no interior de São Paulo. É importante lembrar que todo esporte deve ser supervisionado por treinadores capacitados, e o hipismo não é diferente. No hipismo os treinadores devem entender tanto das necessidades dos atletas, como do comportamento dos cavalos para evitar acidentes. O adestramento paraequestre ganhou espaço e promoveu competições nacionais e internacionais. Assim chegamos no Mundial na Bélgica, em 2003 e participei da primeira equipe brasileira de hipismo a alcançar um campeonato mundial. Na ocasião, conseguimos a carta-convite para a equipe brasileira ir para uma olimpíada”, explica Natalie.
Ainda de acordo com Natalie, ao obter o bom desempenho, o esporte passa a ser um agente transformador e ajuda no desenvolvimento da autoconfiança, dos aspectos cognitivos, físicos e psicológicos, o que reflete no dia a dia do atleta. “Quando alcançamos bons resultados, nos sentimos muito mais capazes, e isso nos proporciona segurança e autoestima. E sem contar que a convivência com o cavalo traz momentos de relaxamento, o que contribui, entre outros aspectos, para um trabalho de atenção e memória. Já fisicamente falando, um dos pontos trabalhados junto ao animal é o equilíbrio”, diz Natalie.
Equipamentos adaptados e segurança
Para a prática do esporte, os atletas podem usar “ajudas compensatórias”, no entanto, não oferecem vantagens em relação ao cavaleiro (termo destinado a homem que monta a cavalo) ou amazona (nome destinado à mulher que monta a cavalo) sem deficiência, apenas compensam as deficiências apresentadas. “Podem ser a nível de encilhamento como, por exemplo, uma sela adaptada, rédea adaptada, entre outros, desde que não fixe a pessoa ao cavalo; ou a nível de órtese ou prótese para compensar a falta de um membro ou parte dele. Cada atleta, junto com a avaliação funcional, recebe orientação sobre essas ajudas compensatórias permitidas no caso específico”, explica a presidente da Fundação Rancho GG – Centro de Treinamento Pesquisa e Ensino da Equoterapia, Classificadora oficial para os Paratletas da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ABQM), Gabriele Brigitte Walter.
E em relação à segurança do esporte praticado por Pessoas com Deficiências (PCDs), Gabrielle esclarece: “É fundamental que uma avaliação inicial seja feita para que se possa orientar sobre o cavalo mais adequado ao iniciante, pois quando for pensar em competição, talvez esse cavalo não seja o mais competitivo e, se for substituído, o mesmo cuidado deve ser tomado. O treinador, tanto do cavalo como do atleta, deve ser uma pessoa habilitada para tal, com profundo conhecimento equestre e respeitador quanto à limitação do atleta e com humildade para escutar o fisioterapeuta e o classificador. O uso do encilhamento adequado e bem colocado, bem como o uso da vestimenta correta do atleta, incluindo capacete, são obrigatórios”.
Jogos Paralímpicos Paris 2024
São 22 modalidades que compõem as paralimpíadas disputadas neste ano em Paris. No programa Paralímpico inclui apenas o adestramento. É um esporte em que cavaleiro e cavalo se tornam um só. As montarias são avaliadas pela precisão e qualidade da equitação, o comportamento dos cavalos em marchas e paradas, sutileza artística e outros aspectos de seu desempenho.
Outro esporte
Embora o surfe adaptado não integre a lista de jogos das Paralimpíadas deste ano, sua importância para pessoas com deficiência (PCD´s) não pode ser diminuída, pois o esporte desempenha um papel significativo na vida desses indivíduos e proporciona benefícios que vão além da competição e busca desenvolver aspectos biopsicossociais de uma pessoa.
Natalie Schonwald é embaixadora da equipe feminina de surfe adaptado no Guarujá - SP e pratica a modalidade há um ano. A desportista relata resultados cada vez mais significativos. “Minha qualidade de vida se transformou em diversos aspectos positivos, o primeiro foi o psicológico, já que mais uma vez superei um desafio. Por consequência, voltei às sessões de fisioterapia com exercícios focados na categoria e a trabalhar com personal trainer. Nas questões motoras, estou retomando alguns movimentos da mão e o equilíbrio, além do ganho de força, pois nas aulas, a atividade de ajoelhar na prancha ajuda nessa parte. O lado cognitivo também melhorou, inclusive meu sono, e os exercícios físicos proporcionados com a prática do esporte ajudam no aumento da concentração, fazendo com que minhas atividades profissionais rendam mais”, explica Natalie.
Para deslizar sobre as ondas, a profissional utiliza uma prancha de Stand Up, no entanto, com o passar do tempo, existe a possibilidade de trocar o equipamento, para sempre alcançar uma evolução independentemente do tipo de prancha.
Atualmente, o surfe adaptado não tem o objetivo de buscar a perfeição, mas sim a diversão aliada às habilidades e capacidades de cada pessoa, o que o torna, assim, um instrumento de inclusão social e diversidade, deixando, de início, a competitividade em segundo plano.
Natalie Schonwald
Natalie é psicóloga, pedagoga, palestrante de inclusão e diversidade e autora dos livros “Na Cidade da Matemática” e “Na Cidade da Matemática – Bairro das Centenas”. É pós-graduanda em Psicopedagogia pelo Instituto Singularidades (SP). Na área da educação, trabalha com os anos finais da Educação Infantil e iniciais do Ensino Fundamental I. Nesta área, Natalie completa seu trabalho escrevendo artigos.
A profissional também faz parte da direção da Associação dos AVCistas do Brasil - uma organização comunitária de acolhimento às vítimas de AVC e seus familiares, e da Comunidade Educadores Reinventares. Como atleta, participou do mundial de adestramento paraequestre em 2003 – pratica esporte desde seus 9 anos e também é embaixadora da equipe feminina de surfe adaptado.
Após um AVC com 8 meses, enfrentou um caminho de superação. Sua história é marcada não apenas pela adversidade, mas pela resiliência e conquistas que a transformou em fonte de inspiração, destacando a importância da inclusão e da diversidade em todas as suas formas.
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