Disputa pelas placas do Brasileirão

Está rolando nos bastidores uma disputa pelas placas do Brasileirão. A Brax, intermediária na venda de direitos comerciais, apresentou proposta agressiva aos clubes da Série A. Investidores do Forte Futebol reagiram. Publicamos mais cedo no @geglobo, resumo a história aqui. 👇🏻

Bom ter em mente o que está em jogo: as placas estáticas colocadas à beira do campo, atrás do gol etc. Antigamente a Globo as comprava, dentro do pacote dos direitos de transmissão, mas desde 2019 elas pertencem aos clubes, que podem faturar com a venda delas.

Esse tipo de propriedade comercial não se vende por conta própria. O clube cede os direitos a uma agência de marketing esportivo, que por sua vez vai ao mercado buscar patrocinadores. É aí que entra a Brax. A empresa faz essa intermediação, e faz de um jeito um tanto ousado.

Recebemos cópia da proposta que a Brax enviou aos clubes. Pelo período de 2025 a 2029, a intermediária oferece R$ 98 milhões, dos quais R$ 25 milhões são luvas, um prêmio pela assinatura do contrato, que devem ser pagas "à vista" – na verdade, em 30 dias úteis.

O valor se divide assim:

2023 – R$ 25.000.000

2025 – R$ 12.000.000

2026 – R$ 13.200.000

2027 – R$ 14.520.000

2028 – R$ 15.972.000

2029 – R$ 17.569.200

Total: R$ 98.261.200

Lembre-se que a Brax é uma intermediária. Ou seja, ela garante os pagamentos acima aos clubes, mas precisa ir a mercado levantar o dinheiro com patrocinadores e tentar lucrar. E é isto que ela está fazendo agora: batendo na porta de casas de apostas para conseguir a grana.

Uma dessas casas compartilhou conosco a apresentação comercial produzida pela Brax. Duas coisas chamam atenção: a empresa já diz no material que detém direitos de 17 clubes, e há pressa para receber R$ 75 milhões de cada patrocinador, parte considerável do pacote.

Aqui, o valor se divide assim:

2024 – R$ 75.000.000

2025 – R$ 82.500.000

2026 – R$ 90.750.000

2027 – R$ 99.825.000

2028 – R$ 109.807.500

Total: R$ 457.882.500

Sendo que o primeiro pagamento, de R$ 75 milhões, precisa ser depositado no seguinte cronograma:

20/09/2023 – R$ 29.000.000

20/10/2023 – R$ 29.000.000

30/11/2023 – R$ 17.000.000

Por que a pressa para receber das casas de apostas? Pois a promessa de luvas para os clubes é agressiva. Lembre-se que há R$ 25 milhões a pagar para cada um no curto prazo. É um jogo arriscado. Para cumprir os contratos com um lado, precisa faturar alto com o outro.

Qual é o risco? Sabemos que a regulamentação do setor das apostas está prestes a acontecer, sabemos também que muitas empresas não conseguirão licença para operar no Brasil. Deve haver retração desse mercado. Se faltar dinheiro nesta ponta, há risco de calote na outra.

E o que tem a ver a liga?

Idealmente, essas placas estáticas fariam parte do plano comercial da futura liga de clubes. Dirigentes teriam os direitos de transmissão domésticos e internacionais, as placas, os naming rights do Campeonato Brasileiro – e esse pacote geraria mais dinheiro para todos.

Se a Brax pega esses direitos, vira um problema para quem está compondo a liga. Na Libra, a brecha está sendo aberta pelo Santos, que está prestes a assinar contrato com a intermediária. No condomínio entre Forte Futebol e União, Botafogo, Cruzeiro e Vasco encaminharam.

Eis que surge o contra-ataque dos investidores do Forte Futebol, em particular da Life Capital Partners. A gestora garantiu aos clubes do bloco que cobre a oferta da Brax e lembrou de uma cláusula do acordo já fechado: se os clubes venderem as placas, perderão 10% do investimento.

Em termos práticos, significa que um clube com previsão de receber R$ 150 milhões do trio Serengeti, LCP e XP vai sacrificar R$ 15 milhões agora, se optar pela assinatura com a Brax. Botafogo e Cruzeiro já fizeram essa opção, e o Vasco está indo pelo mesmo caminho.

Até agora, a maioria dos clubes não fez a escolha. As cartas estão na mesa. Se a Brax levar a melhor, jogará um balde d'água fria nos entusiastas da liga. Se os investidores do Forte Futebol prevalecerem, será a primeira derrota da Brax em muito tempo. Acompanharemos.

✏️: Rodrigo Capelo 

📸: Divulgação