quarta-feira, 20 de maio de 2009

FIA, CBV e CBF, diferentes mas iguais

ESCRITO POR EMERSON GONÇALVES
O poder é fascinante.

Burocracias são fascinadas pelo poder, vivem dele, dependem dele.

Burocracias são invenções da humanidade para servir à humanidade.

Mas há muito, muito tempo, na verdade desde que surgiu na face da terra, a burocracia aprendeu a servir a si própria, antes e acima de tudo.

Pouco há de pior que os estamentos burocráticos que se assenhoram dos estados e terminam por ter o povo servindo a eles e não ao contrário.

No esporte não é diferente.

Federações arvoram-se em estados, algumas, em países ao sul do Equador, costumam ser verdadeiros feudos, domínios eternos de poderosos clãs. São servidas, não servem a seus criadores e sua razão de ser.

Há poucos dias, a poderosa CBF baixou uma norma para o Campeonato Brasileiro: punha fim ao limite de 6 jogos para que um atleta mudasse de clube. Numa só penada passou de 6 para 1. Como disse o presidente do Clube dos 13, Fabio Koff, sem falar com ninguém, sem consultar os clubes.

Ora, os clubes…

A não menos poderosa FIA, do Sr. Max Mosley, aquele mesmo que gosta de diversões sexuais grupais, sado-masoquistas, com fantasias (?) nazistas, decretou mudanças para a Formula 1 em 2010. Nem vem ao caso se as mudanças são boas ou ruins, pertinentes ou não pertinentes, nada disso importa. O que conta, a única coisa que importa é que jamais uma federação poderia sobrepor-se às vontades de seus membros. A Ferrari, até com nota oficial, já disse que, pura e simplesmente, retira-se da F1. A Renault disse o mesmo, assim como a Toyota. A McLaren está muda, afinal, pesa sobre ela a espada poderosa do tribunal da FIA. De repente, Herr Mosley pode ficar à frente de um portentoso mundial de fórmula um, com quatro ou cinco escuderias sem força, sem nome, sem expressão e, obviamente, sem dinheiro. Será curioso.

Diz o mais novo mito urbano que o Bradesco fechou o vôlei profissional feminino porque os locutores da Globo não enchiam o peito e soltavam sonoros “Finasas” a cada cortada de Paula Pequeno. Vamos a mais uma historinha.

Há uma briga de cachorros muito grandes no mercado financeiro, que já vem de longe longe muito longe longe mesmo. O Banco do Brasil, historicamente, é o maior banco brasileiro, assim como o Bradesco é o maior banco privado brasileiro há décadas. O cenário, todavia, mudou. Com a fusão, Itaú e Unibanco formaram o maior banco do Brasil. Também há muito tempo o Bradesco queria comprar a Nossa Caixa, o que lhe daria de volta o cetro de maior banco brasileiro. Entretanto, na hora de vender de fato, o governo paulista, sob pressão das autoridades monetárias “republicanas”, sequer abriu um processo de venda, simplesmente fechou a venda de seu único banco com o BB. Os protestos do mercado foram ignorados. Ser alijado do processo de compra foi um golpe muito forte para o planejamento do Bradesco. Ao mesmo tempo que isso se desenrolava nos bastidores, o banco, na vida real, investia uma enorme quantia no vôlei feminino de alto nível, através da Finasa.

Periodicamente, porém, a poderosa CBV pegava as meninas em seus clubes e montava uma, duas, três, dez seleções. Na vida real, o Bradesco estava gastando uma fortuna todo ano e quem mais tirava proveito da manutenção de grandes jogadoras no Brasil era ninguém menos que a CBV. Tudo isso com um terrível agravante: a CBV é patrocinada pelo Banco do Brasil. O Bradesco pagava os excelentes salários e o Banco do Brasil se fortalecia e aparecia ainda mais. A decisão de acabar com o time adulto já estava tomada há muito tempo, muito antes das recentes finais contra o Rexona e nada teve a ver com o Galvão falar ou não falar o nome da patrocinadora.

Três situações distintas, mas em todas o mesmo fundamento: a federação ser superior aos clubes ou escuderias e fazer o que lhe dá na telha, sem ouvir, sem consultar, até mesmo contrariando os interesses de seus associados.

No caso do futebol, nenhum clube brasileiro emitiu uma nota oficial como a que foi feita pela Ferrari, mesmo porque nossos clubes estão mais escuderias de fundo de quintal, que precisam dos trocados da federação para brincarem de correr com carrinhos toscos, propelidos por motores com 3 anos de idade e provavelmente de uso.

Dirigentes adoram falar grosso e dizer dos muitos milhões de torcedores, dos muitos milhões de marketing, adoram mandar e desmandar em seus pequenos domínios. Diante, porém, de um poder maior que deveria ser menor, apequenam-se, calam-se e aceitam tudo que lhes é imposto goela abaixo.

Sem tugir, nem mugir.

No caso do limite dos seis jogos, quem reclamou e conseguiu reverter o processo foi o presidente do Clube dos 13, uma entidade em que os clubes de fato têm voz e representatividade, ainda que com alguns problemas.

Federações são importantes, sem dúvida, mas sua importância não deve ser maior que a das entidades que são a razão de ser de suas existências.

No caso brasileiro o abuso de poder é manifesto e vem de longa data, desde sempre, talvez. Há poucos dias a CBF publicou seu balanço sem alarde e sem visibilidade. Deve ser uma leitura interessante, muito mais pelas ausências do que pelas presenças, conforme análise de especialista da área que foi publicada pelo diário Lance. Não é fraca a CBF, longe disso, pois em 2008 faturou 146,5 milhões de reais, maior que a receita de todos os clubes brasileiros no mesmo ano, exceto o São Paulo. Lembrando, claro, que ao contrário dos clubes a federação nacional não vende direitos de jogadores. Essa receita foi quase toda gerada por patrocínios. Nem por isso esse dinheiro reverte em benefício do futebol brasileiro, como, por exemplo, em auxílio de viagem aos clubes da terceira e quarta divisões.

Tal como a CBF, a CBV usa e abusa do direito de convocar quem quiser para suas seleções. Tal como no futebol, os clubes não são ressarcidos pelo período em que ficam sem seus atletas, cabendo aos clubes o pagamento regular dos salários. Aliás, é importante notar o crescimento espantoso no número de jogos das seleções nacionais, não somente do lado de cá do Equador, mas em todo o mundo. Jogos de seleções servem, basicamente, a uma só finalidade em sua maioria: abastecer os cofres das federações, seja a do vôlei, seja a do futebol, seja a de outro esporte qualquer. São jogos banais na maior parte, sem atrativos, gerando audiências muito mais pelo efeito inercial do que por despertar paixões.

São eles, todavia, os provedores dos caixas federativos.

Não vejo grandes chances de mudança nessa situação e no poder das federações. No futebol, mesmo na Europa a situação tem pontos de semelhança, e não foi à toa que Platini, um eficiente super-burocrata, levou a cabo a missão de destruir o G14, criando em seu lugar a inócua ECA, hoje já contando com 137 clubes associados. O vôlei está sentindo o impacto pesado das desistências de outras empresas, inclusive no masculino. Dificilmente, porém, isso irá implicar em alguma mudança de base. Na Formula 1, entretanto, não acredito que a FIA vença essa queda-de-braço. Se vencer, será derrotada pelas ausências de quem faz o campeonato fascinante.

Sou de opinião que o papel e a atuação dessas entidades deve ser revisto. Está mais do que na hora, no caso do futebol, dos clubes criarem, finalmente, uma liga de verdade, o que o Clube dos 13 deveria ser, mas não é, por motivos vários, inclusive a forte pressão contrária das federações nacional e mundial. Mesmo porque quem faz o futebol é a paixão do torcedor, e esta se manifesta pelos clubes.

Ninguém torce por uma federação.

Nenhum comentário:

Blogger templates

Your email address:


Powered by FeedBlitz

Obrigado pela visita de todos vocês!

Locations of visitors to this page